Featuring music: LiSa - Gurenge e Chiai Fujikawa - Kuyashi wa Tane
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Featuring music: Megumi Hayashibara - Over Soul e Picky Picnic - Aischu No Melody (The Setting Sun in Africa)
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00:02:20 BEASTARS
Featuring music: ALI - Wild side e YURiKA - Le zoo
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00:01:32 Kamen Rider Zi-O
01:12:52 Kamen Rider Zero-One
Kamen Rider Zi-O fala sobre o tempo. O tempo que nunca volta. Só que na série ele volta, e avança, e volta de novo, muitas vezes. Como um livro. Só que um livro nunca volta, ele só avança. A não ser que você volte algumas páginas por ter passado um mês sem ler aquele livro ou por estar lendo uns cinco livros ao mesmo tempo, ou então esteja relendo o livro porque o leu na adolescência e precisa reler pra ter uma visão mais madura sobre a obra. Ou então eu posso ajustar essa analogia e falar sobre o livro em uma biblioteca, que vai e volta, como o Tempo em Kamen Rider Zi-O. Mais precisamente na biblioteca de Hernando Guanlao, um filipino que começou a disponibilizar sua coleção pessoal de 100 livros para empréstimo e conta agora com milhares de edições que se vão e as vezes nunca voltam pois quem pega não precisa se registrar nem tem obrigação de devolver. Então os livros, como o Tempo em Zi-O, não têm uma trajetória previsível nem definida. Eles vão, eles voltam, podem ir e não voltar, podem voltar e não ir. E você pode ler mais sobre essa história e muitas outras no blog do Laivindil, o https://medium.com/@ChristianEscreve. Ah, mas só depois de ouvir nosso maravilhoso podcast sobre Kamen Rider Zi-O, mais as nossas primeiras impressões de Kamen Rider 01, provando que a franquia Kamen Rider é como o Tempo e como os livros: as vezes fica mofada mas nunca realmente decepciona.
Doações podem ser feitas na conta bancária da Kyoto Animation:
Bank Name: The Kyoto Shinkin Bank
Swift: KYSBJPJZ
Branch Name: Minami Momoyama Branch
Branch Number: 048
Address: 16-50, Yosai, Momoyama-cho, Hushimi-ku, Kyoto-shi, Kyoto-hu, 612-8016, Japan
Account Number: 0002890
Account Holder: Kyoto Animation, Co., Ltd., representative director Hatta Hideaki
Outra opção, agora usando cartão de crédito, é comprar imagens em alta que estão disponíveis no site da KyoAni: https://kyoani.shop-pro.jp Essa thread detalha o passo-a-passo, caso precise de ajuda: https://twitter.com/zetsubouzhainu/status/1151765219976368129
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Ela sempre sonhava com coisas desconexas e muito específicas quando desmaiava, porém dessa vez fora mais pesado que o normal, então ela sonhou com manjericão, com aviões, artigos sobre buracos negros e vasos amaldiçoados…Em algum recôndito cerebral todos esses e outros elementos se conectavam, passavam uma mensagem e colocavam pra fora alguma questão que talvez necessitasse de maior atenção. Somente uma dessas mensagens costumava ser facilmente decifrada, e sua principal preocupação quando foi ao chão também protagonizou boa parte de seus delírios inconscientes; E era sobre o maldito vaso amaldiçoado que ela pensava enquanto lentamente recobrava os sentidos e segundos antes de sentir uma dor aguda na cabeça, aquela dor que só ocorre quando seu corpo bate no chão sem encontrar nenhum tipo de resistência, a dor que alguém sentiria se estivesse ressuscitando, talvez…Gabriela sonhara também com ressureição, ela agora se lembrava; ela sempre se lembrava dos sonhos mais absurdos primeiro, se perdia em detalhes de dois ou três deles e em segundos os esquecia por completo. E agora qualquer outro sonho era esquecido imediaramente, afogado pela urgência da situação assustadora e desconhecida em que se encontrava.
Gabriela se via incrédula, quase boquiaberta, sem sequer saber como traduzir no rosto as novas emoções que cruzavam seu corpo, enquanto sentava no chão agora vazio de seu apartamento quase totalmente vazio, repentinamente espaçoso agora que mais da metade do lixo inútil que guardava havia desaparecido. Ela correu os olhos de um lado a outro do cômodo, tentando lembrar de todas as coisas que antes estiveram ali, a fim de conferir a veracidade da profecia, e notar que apenas itens relacionados a seus crimes haviam sumido; Tais itens eram tão numerosos e sem importância que perceber seu sumiço seria desafiador até mesmo para uma garota que não tivesse acabado de quase sofrer um traumatismo craniano. Algumas faltas eram mais obviamente sentidas que outras, como o relógio cuco acima da TV, que por acaso ainda estava ali, a despeito de também ter sido adquirida com dinheiro de proveniência ilegal. Talvez Gabriela devesse ficar olhando pra ela, pra ver se realmente desaparecia no ar. Talvez se a TV quebrasse o padrão e permanecesse em seu devido e lógico e previsível lugar, Gabriela teria a prova definitiva de que não estava sendo punida por forças sobrenaturais. Talvez ela estivesse mesmo precisando do suco detox e tudo fosse uma alucinação. Se pelo menos conseguisse falar com Valéria, poderia esclarecer o que havia acontecido nas horas perdidas.
Olhando em volta, ainda meio zonza, Gabriela percebeu que o celular de Valéria provavelmente voltara ao lugar em que pertencia, ou seja, diante do rosto obcecado de sua amiga. Ele não mais estava caído no chão, o que dava credibilidade à teoria de que tudo era alucinação e garantia então a Gabriela o direito de ligar de novo para a amiga. Ela pegou seu telefone, iniciou a chamada e os toques começaram. Ela nada ouvia no recinto, ainda bem, e começava a pensar aliviada que talvez o desmaio tivesse ajudado a sacudi-la de volta para a realidade.
A sensação de frio na barriga que Gabriela teve quando os toques pararam e ouviu um certo ruído de carros passando e vento soprando era sem precedentes; por alguns segundos ela não sabia se a ligação fora atendida ou caíra, se os ruídos eram mesmo de um lugar real ou apenas estática interpretada erroneamente por ouvidos esperançosos. E então seu sofrimento entrou em um momentâneo hiato.
– Alô, Gabi?
– PUTA QUE O PARIU, VALÉRIA! – Exclamou Gabriela, tão nervosa que nem estranhara o fato de que Valéria não atendera com “Fala, piranha”, e quase nunca a chamava por “Gabi”. Ela não diminuiu o tom enquanto colocava-se de pé cambaleante, sentindo que precisava fazer Valéria sentir-se espancada apenas com o poder de sua indignação. – PORRA MANO, cadê você? Car
00:03:45 Ultraman
00:19:27 Fruits Basket
00:36:10 Carole & Tuesday
00:48:35 Fairy Gone
00:57:45 Sarazanmai
01:14:27 Robihachi
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Certa vez as amigas assistiam a filmes de terror pertencentes a uma coleção selecionada com esmero por um caprichoso e pretensioso curador, certo estudante de cinema que contratara os serviços de limpeza de Gabriela graças à generosa fama que já a precedia; elas deveriam limpar cuidadosamente os estojos que alojavam os BluRays e DVD’s e tornar a depositá-los em seus respectivos vãos nas estantes que cobriam todos os cantos do apartamento. A opressiva e claustrofóbica sensação que emanava do recinto indicava claramente que seu morador não deveria se dar ao luxo de ignorar a praticidade dos armazenamentos online, no entanto ele jamais se sentiria verdadeiramente proprietário de um filme se este existisse em um ambiente virtual remoto, podendo desparecer a qualquer momento por conta de inúmeros fatores, talvez alguns ainda nem inventados. Ele amava seus preciosos discos, e as garotas amavam assistir a eles nas horas em que deveriam estar limpando-os.
– Já notou, – não parava de tagarelar Valéria, que não conseguia focar em nenhum vídeo superior a dez minutos de duração, o que a fazia fiel seguidora de dezenas de youtubers, a maioria canais sobre teorias da conspiração que se utilizavam apenas de um slideshow de imagens em baixa resolução e a narração robótica e infelizmente cômica da voz do Google – Que as pessoas nunca reagem como a gente reagiria se visse mesmo um fantasma ou alguma coisa sobrenatural na nossa frente? Eles tipo assim… sei lá, aceitam muito fácil. Tipo, dá um grito e tals, mas depois já tá acostumada com a situação, pesquisando uns livros, batendo na porta do exorcista cético e desiludido com o exorcismo…
– Sim, mas daí ele vê que dessa vez é pra valer e passa a acreditar de novo…
– Sua fé é testada.
– E no fim, geralmente, o que a gente acha que pode ter uma conclusão racional, não tem. Porque fica a dúvida né? Isso é real ou não? Tipo essa mulher do filme, ela ou tá possuída ou a mãe dela tá certa e ela só tá doida. Mas isso é idiota porque a gente sabe que ela tá possuída mesmo, é mais legal que seja um demônio.
– Ou a mãe é o demônio.
– O demônio do gaslighting.
E quando Valéria não estava dividindo sua atenção entre o filme e o celular, conseguindo ler notícias sobre celebridades e comentar clichês cinematográficos ao mesmo tempo, ela encarava sonhadora um vaso verde entalhado com runas carnavalescas que denunciavam sua verdadeira origem: o cenário de alguma produção barata da faculdade de cinema de seu dono; mas Valéria parecia acreditar nas propriedades místicas do vaso, não por influência do número de filmes de terror que assistíamos ou demais antiguidades bizarras que decoravam o apartamento, mas por causa do maldito Nero. Pedante como sempre, olhara o vaso certa vez em que estivera presente na sessão de filmes, e assim que se aproximou da peça reagiu de forma grandiloquente tapando a boca com as mãos em concha, tomado por tremores e arqueando o corpo enquanto tropeçava para trás, provocando inicialmente riso em Gabriela, que tornara a ficar séria assim que não encontrou cumplicidade no rosto verdadeiramente chocado e preocupado de Valéria, que correu para acudir seu amigo.
– Esse vaso vocês nunca podem pegar. Ele é justamente anti-roubo, armadilha pra ladrão. Ladrão que rouba ladrão… O pó que tem dentro dele serve pra equilibrar a balança do universo, tá ligado? Você perde tudo o que você tomou pra si. Esse vaso é o justiceiro original. – dissera Nero claramente inventando na hora qualquer coisa que fizesse Valéria babar.
Gabriela pensou em como pessoas reagiam a absurdos assim nos filmes e deduziu que mesmo as reações mais falsas poderiam muito bem acontecer na vida real; pois Nero dera sua explicação naquele tom assombrado e melodramático com que usaria
Nesse episódio:
00:00:36 Shoplifters
01:08:12 Mirai no Mirai
02:12:16 Oscar 2019
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“A gente aproveita que não tem ninguém conhecido” era a frase que ficava voltando à mente de Gabriela durante a festa, toda vez que Valéria parava a caminhada das duas para cumprimentar alguém que ela conhecia. E com esses encontros vinham os escândalos, os abraços, os flertes, as mãos bobas… Gabriela tentava não se importar e ficar chapada; ela tentava se entregar para a difusa onda provocada pelas diferentes substâncias que corriam em suas veias, mas algo no ar a incomodava tanto que ela não conseguia desligar seus sentidos, que estavam em estado de alerta máximo; quanto mais ela tentava subjugar e amortecer sua mente, mais ela rugia raivosa, paranoica, barulhenta e conspiratória. Ela queria se sentir grata por não estar sozinha… Ela sabia que precisava de Valéria a seu lado em ocasiões como essa, ainda que algumas vezes desejasse que a amiga sumisse no ar. Ela ressentia a necessidade que tinha pela amiga. Ainda mais quando abandonavam novamente as pessoas encontradas assim que a conversa se tornava mais democrática e menos focada em Valéria; ela tinha uma personalidade magnética e não sabia lidar com uma situação em que não fosse o centro das atenções.
Gabriela sabia que, provendo sua melhor amiga com o que ela precisava, poderia ter a garantia de manter para sempre a reciprocidade de seus sentimentos. E o que Valéria mais precisava era de uma pessoa que estivesse perfeitamente encaixada na rara conjunção entre o interessante e o neutro; alguém que ela pudesse arrastar em suas aventuras malucas e uma companhia que lhe conferisse coragem para seguir em frente, pois a vida sem isso seria tediosa demais. Nenhuma das duas queria estar sozinha, mas Gabriela sabia que a balança nem sempre pendia de forma justa para ambos os lados. Uma parte de si tinha consciência da insalubridade de uma situação em que você permite que alguém pense que está decidindo os rumos de sua vida enquanto você não percebe. Gabriela entendia, no entanto, que a felicidade é rara e não muito garantida, e que se deve agarrar a ela não importa o preço a ser pago.
E então havia Nero. Nero era chato, ele ficava falando de energia. Como a energia de Gabriela sempre estava muito pesada, e misturava no assunto qualquer que fosse a porcaria holística que aprendera naquela semana. Qual fora a curiosidade mística que ele contara naquela noite, assim que avistou Valéria, sua paixão platônica e antiga amiga, e não tardou em ir até ela com seus braços abertos, nus, tatuados e flácidos e com aquela típica estrutura muscular de um quarentão que deixara de malhar havia uns anos? E ele tomava a atenção para si de um jeito que ofuscava a própria Valéria, mas com ele era diferente porque ela não se importava. Com Nero ela fazia aquela cara de genuíno interesse que ninguém mais tinha a honra de receber. Ela nunca prestava muita atenção ao que Gabriela dizia… Não de verdade… Ela apenas esperava com muita diligência seu turno de falar. Ah, sim, Nero naquela noite falara algo sobre um ritual que fazia um anjo aparecer para você no meio da noite e te falar seu nome angelical ou algo assim.
– E meu nome é Melflyn. Significa “O que Ainda não se Cumpriu”. Tem tudo a ver com a minha busca, sabe, com essa vontade constante que eu tenho de aperfeiçoamento.
– Nossa, exatamente! – Valéria interrompia pela milésima vez, um nível acima de empolgação a cada novo “Nossa, exatamente!” que ela guinchava. E então em determinado momento o assunto voltara-se para Gabriela. E Nero tinha essa ideia maluca… E essa ideia parecia haver sido compartilhada previamente entre ele e Valéria, pois trocaram um levíssimo olhar cúmplice antes de Nero voltar seu cavanhaque branco pedante para Gabriela e começar a sugerir formas alternativas de se divertir, desafiar as normas, acessar umas conexões especiais entre a sua ment
Nesse Episódio:
00:01:48 Gaikotsu Shotenin Honda-san
00:05:30 Banana Fish
00:21:25 SSSS.Gridman
01:01:52 Kamen Rider OOO
Gabriela trabalhava com o que ela chamava de “Faxina Gourmet”. Um belo dia, sentada num local que em 2005 teria sido chamado de “cyber-café”, lendo os classificados no jornal e evitando circular anúncios com sua esferográfica azul para evitar a vergonha de completar o “desempregada starter pack”, ela teve a bela ideia de fazer faxina em apartamentos pequenos de gente rica e solteira. Talvez um cachorro pudesse até entrar na equação e talvez ela pudesse ocasionalmente lavar e podar dito cachorro, mas não iria querer lidar com gatos. Ela chegaria rigorosamente vestida de Mary Poppins dos trópicos, com a camisa bem abotoada feita de fábrica mais adequada ao calor brasileiro e alguma alternativa ao saião de crente que, apesar de fresco, não lhe caía bem nos quadris; ela estaria carregando uma maletinha de plástico bruta e prática, como uma grande caixa de ferramentas, que contrastaria com seu corpo franzino mas passaria o respeito necessário para compensar a sua aparente falta de experiência.
A maleta teria vários compartimentos, como as caixas de ferramenta tradicionais, mas ao invés de chaves-de-fenda ela conteria os mais diversos objetos ligados a limpeza. Os pincéis e esponjas e pequenos esfregões apropriados a diferentes superfícies, um tipo de limpeza que seria desnecessária para a maioria das pessoas e até exagerada para outras, mas que encheria os olhos de playboys, socialites e alpinistas sociais de pequeno porte, que nunca teriam ouvido falar de tal serviço e por isso mesmo estariam dispostos a pagar taxas premium para ter o que comentar com os amigos no final-de-semana em Búzios (eles seriam mais posers do que realmente ricos). E esses amigos ficariam com inveja e também pagariam por sua diária e ela estaria a semana toda ocupada fazendo o mínimo e ganhando o máximo em apartamentos tristonhos e modulados, parecidos com cenários de TV, que raramente viam seus donos, ocupados como estavam sendo adulados por guiarem exitosamente e em tão tenra idade seus empreendimentos de sucesso, ou simplesmente treinando pilates (Pilates se treina?).
E todo esse refluxo azedo de velhas lembranças recentes só se avolumava em sua garganta porque, sob o efeito daquela cápsula que mais parecia um produto da Natura feito para estourar no dedo e passar nas olheiras, ela havia se tornado a própria maleta jogada no canto. Aquela velha maleta que usara nos dois primeiros meses de seu negócio, os únicos meses em que ele funcionou de forma agonizante e patética antes de simplesmente morrer como a péssima ideia que sempre fora. Isso não era o mesmo que dizer que seu empreendimento de nada servira, pois o projeto fora revitalizado e reformulado por Valéria, que lhe dera uma diferente forma e propósito. Assim como Gabriela irradiava sua consciência até cada ranhura da grande e bruta cômoda de mogno que abrigava e mofava suas roupas, pintada com técnicas de pátina por certo pintor que se empolgara demais num serviço que deveria ser simples e nada artístico, ela também se sentia conectada com sua melhor amiga, habitava seu corpo, era bombeada de seu coração para o cérebro através de todas as vias possíveis e saía por suas orelhas em absurdos jatos intermitentes que poderiam ser tanto algodão doce como ejaculação masculina cor-de-rosa. Nada disso fazia o menor sentido, porém cada nova conexão estabelecida com uma pessoa ou objeto trazia de volta memórias de sua história juntos. Estar em sintonia com Valéria trazia também um novo e estranho entendimento acerca da natureza de suas intenções.
Naquele momento ela não se focou em lembranças de como se conheceram fisicamente; esse episódio empalidecia quando comparado ao dia em que se conheceram realmente. Nem mesmo as festas que realizaram nas casas de seus clientes enquanto estes estavam fora, chamando sempre um pequeno grupo de amigos, desfrutando da jacuzzi, fumando
Nesse episódio:
Magnificent Kotobuki
Saintia Sho
Bermuda Triangle - Colorful Pastrale
Egao no Daika
Boogiepop and Others
Magical Girl Spec Ops Asuka
The Promised Neverland
Dororo
Rinshi!! Ekoda-chan
– Como é o nome disso mesmo? – Gabriela perguntou com cautela, não por querer realmente saber sem sombra de dúvidas o nome da droga, bem como talvez sua composição química, mas apenas para retardar o momento inevitável de sua ingestão, um ato quase involuntário provocado pelo seu nervosismo e imediatamente detectado por sua amiga Valéria, de olhar malicioso e sorriso salivante, exibindo dois comprimidos na palma da mão e uma personalidade inconsequente que pesou forte em sua decisão de ignorar os anseios da amiga.
– Se chama NãoInteressol de VivemaisSuaPuta. Agora pega, põe na boca, engole e tenta não dizer “não” para nada… Nem ninguém. – como se vivesse presa na cold opening de CSI:Miami, Valéria gostava de pontuar grandes acontecimentos com melodramática assertividade, que, apesar de soar forçada e sempre mal direcionada, era persistente o bastante para vencer qualquer resistência contrária, devendo esse feito ao preciso equilíbrio entre as notas de ironia, deboche e agressividade em sua voz. Era como se a maestria da tentativa sobrepujasse a grandiosidade do seu fracasso.
E com isso Gabriela pegou uma das duas pequenas e viscosas cápsulas, translúcidas e oleosas, como ovas de peixe ou casulo de inseto. O líquido dentro era branco, espesso e reluzente, como xampu, e formava estranhos padrões monocromáticos quando a garota riscava a superfície com a unha. Contra isso, foi prontamente alertada por Valéria:
– Cuidado, você vai acabar rompendo o sicilone.
– Isso é silicone?
– Isso parece silicone.
Gabriela abstraiu e viajou na beleza da cápsula por alguns breves segundos antes de joga-la na garganta e dar a descarga com cerveja. Valéria sorriu e fez o mesmo, tomando um gole maior e arrotando com gosto. Agora ela provavelmente falaria algo bem brega do tipo “Te vejo do outro lado”, se pelo menos Gabriela tivesse ficado sóbria só um pouco mais. Sim, pois o “silicone” (parecia silicone) dissolvera-se dentro de sua garganta e o L’oreal espalhara-se rapidamente por seu organismo e lembrem-se que Gabriela era a garota que acabara de sair da casa dos pais conservadores cujo único ópio permitido era a programação dominical do SBT e telejornais sensacionalistas. Em sete meses morando naquele caixote de dois cômodos, Gabriela experimentara certas coisas, perdera algumas virgindades e teve aquela vez em que fumou maconha e dormiu por doze horas. Ainda que pudesse ter consumido drogas pesadas disfarçadas de leve diversão, seu organismo jamais conhecera nada tão devastador.
Valéria entrelaçou os dedos nos seus e apertou firme. Não que Gabriela soubesse ou sentisse seu apoio. Naquele momento seu corpo reagia a droga na forma abrasadora e imaculada que era seu propósito original, aquela intensa primeira reação que jamais voltaria a acontecer. Naquele exato instante sua mente se projetava através de seus poros e preenchia todos os cômodos da casa ao mesmo tempo, como se tivesse se convertido a um estado gasoso e aumentado consideravelmente de volume. Ela sentia a dor das paredes, o incômodo das lágrimas de infiltração escorrendo delas e a dor pungente e constante dos buraquinhos que sustentavam os quadros. Ela era o próprio calor da luz, a vibração da corrente elétrica, fazendo cosquinhas no seu pé.
Que estava em toda parte.
Que era tudo e era nada. Gabriela estava rompendo as barreiras do tempo e espaço. Ou pelo menos era isso que Valéria diria. Ela via muita televisão britânica.
Eu vou terminar e postar depois, talvez em capítulos nas próximas descrições. Enquanto isso, faz favor, leiam o disclaimer abaixo, faz favor: